Brexit: a contagem regressiva começou

Desde o dia 24 de junho de 2016, Brexit tem sido pauta diária na mídia britanica. Independente de que lado as pessoas estejam, Remainers ou Brexiteers, o assunto está em todos os lugares. Com a enchurrada de conteúdo sobre o Brexit, um assunto em particular tem tirado o sono de muita gente, o tal do Artigo 50, artigo que trata da saída de um país da União Européia.

Expliquei nesse post tudo sobre o Artigo 50, dá uma lida antes de continuar.

Pois bem, hoje, 29 de marco de 2017, a Primeira Ministra Theresa May, assinou a carta que oficialmente notifica a União Europeia da decisao do Reino Unido de deixar o bloco economico e que, oficialmente inicia o período de dois anos de negociacoes previsto no Artigo 50 da constituicao da UE.

Como o Artigo 50 preve dois anos de negociacoes, a saída oficial do Reino Unido da Uniao Européia será dia 29 de marco de 2019. Essa data pode ser alterada caso os 27 países remanescentes concordem, mas isso é muito improvável.

Nos próximos dois anos, o governo britanico vai brigar com a UE pra conseguir, nas palavras da PM, “o melhor acordo possível para todos os cidadaos do Reino Unido”.

Mas e ai, o que muda agora que o Artigo 50 foi gatilhado?

Teoricamente, nada. Todas as regras, leis e benefícios da UE continuam valendo no Reino Unido e vice-versa. Nenhum cidadão europeu será deportado e continua totalmente legal imigrar para o Reino Unido utilizando um passaporte europeu. A UE já informou que o ‘cut off date‘ pra acabar com a lei de movimento livre será o dia da saída, ou seja, 29 de marco de 2019. O Reino Unido pode querer mudar isso, mas só saberemos conforme as negociacoes caminharem.

Azul: UE / Cinza: AAE / Amarelo: nada

O divórcio entre o Reino Unido e a União Européia vai ser extremamente complicado, afinal sao 45 anos de casamentos e muita, mas muita coisa mesmo está em jogo. Porém, 3 coisas sao extremamente prioritárias nas negociacoes, para os dois lados.

1. Acesso ao single market
O Reino Unido quer sair da UE, mas quer continuar tendo acesso ao mercado livre europeu, que vale bilhoes e possui uma populacao de 500 milhoes de pessoas. Nas leis atuais, para ter acesso ao mercado livre, o país tem que aceitar o livre movimento também, assim como fazem Suica, Noruega e Islandia. O Reino Unido nao quer isso, mas quer acesso ao mercado livre, ou um novo acordo completamente novo, como o que foi feito com o Canadá.

2. Great Repeal Bill
Desde a entrada do Reino Unido na União, muitas leis válidas aqui foram na verdade desenhadas em Bruxelas. O Great Repeal Bill é a tarefa árdua de organisar todas essas leis e uma a uma, decidir o que fica e o que sai. O que fica, deverá ser ratificado como lei britanica, o que pode levar anos. Um dos problemas aqui é que as leis trabalhistas, por exemplo, sao UE e os trabalhadores podem, caso o governo queira, perder todos esses direitos.

3. Cidadãos UE no Reino Unido e vice-versa
Atualmente, existem 3 milhoes de cidadaos europeus no Reino Unido e 1,5 milhoes de britanicos vivendo no resto do continente. Ambos Reino Unido e UE querem que um acordo seja estabelecido logo no comeco, permitindo que todas as pessoas mantenham os seus direitos. Nao sabemos como isso vai acontecer, que tipo de sistema será colocado em prática, mas pelo menos podemos dormir tranquilos que nao iremos ser deportados e que nao perderemos nosso direito de trabalhar livremente.

Além disso, também existe o fator Irlanda do Norte x República da Irlanda e claro, a Indepedencia Escocesa, que assim como a Irlanda do Norte, votou pra ficar na União Européia.

Irlanda do Norte x República da Irlanda

Como voces sabem, a Irlanda do Norte faz parte do Reino Unido, mas fica na mesma área que a República da Irlanda, que continuará sendo um membro da União Européia. Caso a saída do Reino Unido da UE seja uma saída ruim, a Irlanda do Norte estará numa situacao muito complicada, pois será a única área do Reino Unido com borda física com o UE. O que adianta abolir o movimento livre se as pessoas todam livremente chegar da Grécia na Irlanda e de lá, entrar no Reino Unido pela porta dos fundos?

O problema é tao sério que a União Européia já afirmou que, caso a Irlanda do Norte vote por reunificar-se com a República da Irlanda, ela passará automaticamente a ser um membro da UE de novo, já que se juntou a um, assim como aconteceu com as Duas Alemanhas na década de 90. O governo britanico também afirmou que, honrará o Good Friday Agreement de 1998, em que diz que caso a Irlanda do Norte vote por unificacao, o governo britanico nao irá vetar.

Ou seja, a unificacao irlandesa nunca esteve tao presente.

Independendia Escocesa

O resultado do referendo de junho mostrou claramente a divisao do Reino Unido: irlandeses e escoceses pensam mais parecido, enquanto galeses e ingleses sao mais parecidos. A Escócia votou ficar em todos os colégicos eleitorais e desde entao, tem pressionado a PM a tomar uma posicao em relacao a Escócia. A PM é punho de ferro e disse que a Escócia nao terá nenhum tratamento especial, pois o voto foi em nível Reino Unido e nao nacoes do Reino Unido. Essa resposta fez com que a PM da Escócia ressuscitasse um assunto que deveria ter morrido em 2014, a Independencia Escocesa.

Nicola Sturgeon, PM da Escócia, já consegui que Edimburgo votasse a favor do seu referendo e já está mexendo os pauzinhos pra ter um outro referendo de independencia pouco depois da data de saída da UE. O pedido ainda precisa ser ratificado pela PM do Reino Unido, Theresa May, mas já acenda uma esperanca na Escócia. Caso o voto seja sim, a Escócia terá que ir atrás de um novo acordo com a União Européia, embora ministros já tenham afirmado que a entrada será rápida e indolor, pois a Escócia já cumpre todas as exigencias pra ser um membro.

Futuro das Ilhas Britanicas

Um outro ponto interessante que surgiu hoje veio do Parlamento Europeu, que afirmou que independente do resultado das negociacoes, o Reino Unido terá tres anos pra adaptar-se a nova realidade. Tal afirmacao deu uma acalmada no medo de, da noite pro dia, ter que mudar tudo dentro de um país. O governo britanico havia pedido pelo menos 5 anos, mas de novo, isso pode mudar durante as negociacoes.

Particularmente, eu odeio Brexit. Acho o maior tiro no pé! Entendo que a Uniao Européia precisa mudar muito e que nao é perfeita, mas nao acredito que sair seja a saída. O que deixa a coisa menos feia é a possibilidade de ver uma Irlanda unida e uma Escócia independente.

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