Professor nativo x professor não-nativo

Antes de ler esse post, você deveria ler esse post aqui que a Bárbara escreveu. Ela é professora de inglês e tem muito mais base do que eu pra falar. Depois que você ler lá, você pode voltar aqui.

Antes de vir pra Irlanda, eu estudei inglês por 5 anos no Brasil. Nos primeiros 2 anos eu tive aulas com professores brasileiros (Thaís e Cíntia suas lindas <3) e a partir do 3º ano eu pasei a ter aula com um professor nativo, o norte-americano Daniel (seu lindo também). Eu tive muita sorte, pois as minhas professoras brasileiras foram excelentes e o Daniel também foi excelente.

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Aqui na Irlanda eu já fiz aulas com 3 professores: Shauna, John e agora o Lurkan. Shauna estudava Línguas em uma universidade de Dublin e tinha especialização em Ensino de Língua Inglesa pra estrangeiros; John tem mais de 20 anos de carreira no ensino de idiomas e um dom pra ensinar que nasceu com ele; não faço a mínima ideia da formação do Lurkan, mas as suas aulas são excelentes.

Dei sorte de novo, mas eu estou ligado que fui exceção.

A maioria dos estrangeiros (não só os brasileiros) aqui na Irlanda torcem o nariz quando ouvem que vão ter aulas de inglês com alguém não-nativo. Afinal, estão na Irlanda e não faz sentido vir pra cá pra aprender inglês com alguém não-nativo, né?

Já ouvi um monte de reclamação de brasileiro falando que o professor da escola não é bom, que dá aulas nas coxas, que não consegue explicar, que se enrola com gramática e coisas assim. Sempre que ouço esse tipo de coisa, me vem a cabeça que isso poderia ser diferente se eles tivessem aulas com brasileiros. Ou se as escolas de idiomas de Dublin exigissem mais dos seus professores.

Baseado na minha experiência fica difícil eu defender o professor não-nativo, já que só tive experiências boas com nativos, mas por ironia do destino essa semana aconteceu algo comigo na aula de italiano que pode ilustrar bem a situação.

Eu tenho duas professoras de italiano: Linda e Daniela. Não faço ideias da formação delas, mas percebo que Daniela tem muito mais conhecimento de gramática e explica os “porquês” do idioma com muito mais facilidade do que Linda, que sempre se enrosca em alguma coisa de gramática.

Tenho a impressão de que Daniela tenha uma preparação pra dar aula maior do que Linda, que parece ser apenas uma nativa no idioma tentando ensiná-lo pra estrangeiros. As duas são boas, mas poderiam ser muito melhores se tivessem mais preparo e se dedicam apenas a ensinar italiano.

É, elas tem outros empregos e carreiras e dão aula apenas pra gente, uma vez por semana.

Essa semana a Daniela ficou doente e foi substituída pela Martina, uma irlandesa que fez faculdade de Italiano em Galway e que trabalha em um restaurante italiano aqui em Sligo.

Quando a Martina começou a aula, deu pra ver a carinha de decepção dos meus colegas irlandeses (eu confesso que também fiz carinha de “ahh”), mas no fim da aula todos queriam mais aula da Martina, que foi muito mais rica e produtiva do que a aula da Daniela.

Mas por quê?

A Martina sabia exatamente onde os irlandeses tinham dificuldade em pronunciar e entendia perfeitamente a cabeça deles. Ela explicou a diferença entre os sons “dolce” e “duro” precisamente e muito mais eficientemente do que as outras duas. Ela, por falar inglês nativamente e agora ensinar italiano, sabe exatamente onde um falante de inglês vai ter dificuldade com o italiano e foca nisso, pra ajudar eles.

Coisa que professor nativo, na maioria dos casos, não tem. É bem díficl achar um Lurkan (que fala espanhol e ensina inglês pra espanhóis) por aí, a maioria apenas fala inglês e ensina inglês, deixando passar um monte de particularidades da “transição de idiomas” (isso existe?).

Me lembro que o Daniel, mesmo sendo muito bom e preparado, as vezes penava pra explicar porque usar “there is” ao invés de “have”. Já a Cíntia, sabendo que o “there is” não faz sentido na cabeça do falante de português, porque a gente fala “lá tem”, driblava esse problema mais facilmente e conseguia nos fazer entender.

A mesma coisa aconteceu com a Martina, que explicou pros irlandeses da sala de um jeito simples e rápido algo que Daniela e Linda sempre se enroscam: o sujeito oculto.

Demorou muito pra eles entenderem que no italiano você não precisa falar o sujeito toda hora, como no inglês, que tudo tem que ter “I, you, he/she, it, we, they”.

A explicação da italianas era sempre algo do tipo “ah, em italiano é assim”. A explicação da Martina foi algo como “é difícil de entender mesmo, mas no italiano você não precisa citar o sujeito, pois está implícito, sem contar que se o objeto for masculino, o sujeito referido é masculino, se for feminino, sujeito feminino”.

Daniela e Linda poderiam ter feito isso? Sim, claro que sim. Mas por não entender a cabeça dos falantes de inglês por completo, por não ter tanta preparação e etc, elas não conseguiram.

Não defendo professor nativo ou não-nativo, defendo professor que, além de preparo e dedicação, goste do que faz. Porque quando o cara gosta de verdade, ele dá aula com tesão e isso faz qualquer um aprender.

Ps: Vejo que as minhas professoras italianas gostam de dar aula, pois mesmo sem preparação as aulas são boas, mas se comparado a alguém com preparação e didática, elas perdem.

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2 comentários sobre “Professor nativo x professor não-nativo

  1. poxa, escrevi um comentário mas não foi! afff!

    então, o que eu tinha dito é que eu adorei o post.

    o fato da irlandesa saber das dificuldades do falante de inglês e focar nessas fraquezas faz toda a diferença, não tem nem o que dizer.

    o exemplo do “have” e “there is”, perfeito, Rick!

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