Essa semana o governo irlandês anunciou o orçamento para o ano de 2014 e as novas determinações orçamentárias do país estão causando um pequeno alvoroço entre os irlandeses. Entre as medidas tomadas pelo governo estão o corte em alguns benefícios sociais e o aumento de impostos em alguns produtos.
A medida objetiva arrecadar mais impostos e economizar o dinheiro do pais, pra que ele possa sair da crise e sanar a dívida de bilhões que tem com o IMF.
Por exemplo, a partir de janeiro os itens alcóolicos vao subir cerca de 40c/50c, cigarros 10c por unidade, VAT do turismo vai subir pra 9% e o fee de todos as faculdades vai subir € 250.
Mas o que esta causando mesmo a indigancao é o corte no dole semanal dos jovens. Hoje, o jovem irlandês de 18-21 anos recebe € 100 de dole; o jovem de 22-24 recebe € 144 e o jovem acima de 25 anos recebe € 188. Aos que são casados, têm filhos e responsabilidades maiores, é feito um estudo de caso e o valor de € 188 pode aumentar.
Tem tambem o dole por filho, que falei nesse post aqui.
A partir de janeiro o dole sofrerá um ajuste a partir da faixa 22-24 anos, que vai passar a receber € 100, mesmo vaor de 18-21; acima de 25 anos o valor passará a ser de € 144 e não mais de € 188. Os benefícios das criancas será reduzido em € 10 para cada faixa.
Isso signfica uma economia de alguns milhões para o cofre público irlandês, mas também significa redução de poder de compra do povo irlandês.
Vamos analisar.
O mercado de trabalho irlandês esta em crise e não tem emprego pra todo mundo. Emprego que digo é o emprego de escritório, que exige graduação e também o emprego estável de fábricas, comércio e etc. Os ‘sub-empregos’ não são muito afetados, por que basicamente vivem do turismo, dos estrangeiros e do entretenimento.
Ao sair da faculdade ou ao terminar o ensino médio o jovem nao encontra o tal do emprego e então, aplica pro dole, passando assim a ter dinheiro toda semana. Dinheiro que ele usa pra sair, se divertir, beber, comprar roupa e etc. Querendo ou não, ele esquenta a economia, mesmo não trabalhando.
Muitos dos jovens que estão no dole não querem saber de trabalhar, por que o dole é confortavel pra eles, que ainda moram com os pais (que pagam as contas).
Claro que existe a parcela da população que é de fato ‘carente’ e precise do dole pra se manter. Existem jovens que recebem o dole e dão parte ou quase todo o dinheiro na mão dos seus pais, mas eles são minoria.
Carente está entre aspas porque carência aqui nao é a mesma coisa que carência no Brasil.
A justifica do governo para o corte é que o país nao quer que seus jovens desperdicem a juventude sentados no sofá, assistindo programas em suas tvs de plasma ao invés de trabalharem e construírem um futuro para si mesmos. Outro ponto é desencorajar o jovem a aplicar pro dole, já que a ajuda não é tao farta assim e trabalhando ele pode conseguir mais.
Mesmo que isso encoraje ainda mais os jovens irlandeses a imigrar.
A opinião dos irlandeses é bem mesclada nesse momento, lendo os comentários deixados no mural das notícias, notei que o pessoal que tem emprego diz que o dole é um assistencialismo muito prejudicial, pois faz ninguém querer trabalhar e deve sim ser cortado. Alguns até citam que ofereceram emprego para amigos que negaram dizendo ‘pra que trabalhar se toda quinta-feira eu tenho dinheiro?’.
Já quem está no dole está se sentindo diretamente prejudicado e alega que não tem como encontrar emprego em meio a essa crise.
Pra nós brasileiros, que viemos de um outro cenário social, a realidade irlandesa, mesmo com essas novas reduções ainda se parece muito legal. Afinal, eles podem ficar em casa sem fazer nada, recebem dinheiro do governo e usam como bem entendem.
Agora imagine que a Dilma resolva a partir do ano que vem cortar 35% do bolsa família de todos os milhões de brasilerios que recebem o benefício. Nao seria uma tragédia?
É o que esta acontecendo aqui. Esses jovens estão acostumados a receber essa ajuda do governo, dependem disso. A cabeçaa deles é bem diferente da nossa e no quesito ‘danca da vida’, a gente tá muito mais na frente.
Claro que isso é devido ao nosso cenário, a nossa realidade.
Num primeiro olhar – e diga-se de passagem, bem genérico – de um brasileiro, o irlandês é tipo aquele menino de prédio, que não sabe se virar muito bem no bairro e por mais ruim financeiramente que sua família esteja, ela ainda está melhor do que muita gente que mora no bairro. Jà o brasileiro é o menino do bairro, que se largar em qualquer lugar da cidade volta pra casa, dá seus pulos pra conseguir o almoço e ainda que sua situação seja boa, ele nao chega muito perto da bonança do menino do prédio.
Excluem-se as exceções (ricos brasileiros e pobres irlandeses) nessa generalizacao, estou falando de classe média e apenas pra ilustrar o cenário.
Eu concordo com a iniciativa do governo de tentar desencorajar o jovem a entrar no dole e encourajá-lo a trabalhar, mas entendo o frustração desses jovens irlandeses que do nada vão ter que aprender a pescar, mesmo em um mar com pouco peixe.
Problemas de primeiro mundo.
Fontes:
http://www.independent.ie/business/budget/td-wants-to-save-young-from-flatscreen-tvs-29667351.html
http://www.independent.ie/business/budget/budget-2014-young-elderly-and-the-old-reliables-hammered-29661471.html
http://www.independent.ie/business/budget/budget-2014-list-of-items-affectedso-far-29661477.html
Bom voltar a reler seu blog depois de dois meses longe e deparar com um texto tão bom! Parabéns!
Pô, man! Obrigado hein! Continue por aqui que sempre vai rolar algo legal!
Eu acho que as medidas são bem vindas.
Apesar do jovem recebedor do dole movimentar a economia, eles estarem trabalhando seria muito mais benéfico e produtivo pro país – eu vejo essa molecada sem fazer porra nenhuma e fico pensando: o governo vai ficar sustentando esse povo até quando?
A Irlanda vai ser um país melhor, massssss, como eu comentei com a Tarsila, isso traz um problema pro estudante brasileiro, já que as vagas dos “sub-empregos” possivelmente estarão sendo preenchidas por esses jovens irlandeses….
Eu concordo com a medida tb, mas entendo o lado deles em alguns casos. Conheço alguns que tao no dole e estão procurando emprego e realmente, não acham. Claro, eles tão procuram emprego na área, em coisas legais e principalmente, que paguem ao menos o dobro do dole..pra compensar.
Vai demorar um pouquinho pra eles se tocarem que tem que partir pro trampo que vai pagar quase a mesma coisa ou um pouco mais do que o dole…mas esse dia tem que chegar.
Sobre os brasileiros,é..vai ficar bad…mas nao podemos pensar só na gente, ne? Nosso país não é esse..hehe..
Muito bom!
Essa questão é bem controversa. O bolsa família tem um perfil diferente do dole e eu não acredito que tenha gente que não trabalhe pq recebe o bolsa família, por exemplo. Porém, mesmo aquelas “nanás” que a gente sabe que tá torrando o benefício social dela na Penneys, tá contribuindo com a economia. Tough.
O problema do assistencialismo é como a pessoa beneficiada entende o benefício, como um meio ou como um fim? Se como um fim, concordo com o Governo também em reduzir isso. Belo post, Rick!