Esse post foi escrito pra você, querido leitor, que costuma dizer que o Brasil é um país extremamente assistencialista. Eu, nesse exato momento, não sei mais dizer se gosto ou não disso. Continuo pensando que o Brasil é desigual (isso não mudou) e estar aqui na Europa só me ajudou a ver o quanto realmente somos um país desigual.
Na Europa as coisas são mais igualitárias. Tem corrupção? Claro que tem, mas eles conseguem driblar isso e investem o mesmo em tudo. Educação aqui é coisa séria e não é gratuita (como no Brasil), mas todo mundo tem acesso (sem exceção). A educação é boa, de qualidade. Do jardim de infância à faculdade. E o Erasmus (programa de intercambio pra jovens universitários europeus) apenas ajuda os estudantes com uma graninha mensal, que não é nada comparado as bolsas que a Dilma oferece.
Mas voltando ao tópico do “Brasil assistencialista“. Brasileiro costuma dizer que no Brasil tem bolsa-tudo. Tem bolsa-família, bolsa-escola, bolsa-faculdade, bolsa-gás, bolsa-cadeia, bolsa-balada e por ai vai.
Sim, nós temos.
Mas as nossas bolsas não chegam nem perto do assistencialismo praticado na Irlanda.
Repito, não chega nem perto.
Aqui na Irlanda, se os irlandeses assim quiserem, eles não precisam trabalhar. Existem diversos tipos de “doles” (algo como bolsa) que eles podem aplicar por aqui. Já falei aqui sobre a “bolsa filho” que o governo oferece. Além dela, tem dole pra quem está desempregado, dole pra quem está procurando emprego, dole pra quem está comprando casa e etc. Nem todo irlandês recebe, mas definitivamente, muitos recebem. A média é muito maior do que a média de brasileiros que recebem algum tipo de bolsa da Dilma.
Nesse post, eu quero falar do JobBridge.
Pra falar do JobBridge eu preciso voltar um pouquinho. This post is going to be big. A Irlanda tem uma histórico de imigração muito grande e o irlandês é um povo acostumado a deixar seu país por melhores oportunidades. Ao longo da história da Irlanda, os irlandeses estão sempre imigrando, seja pro Reino Unido, pros USA, pro Canadá ou pra Austrália.
Desde meados dos anos 2000, com o boom da economia irlandesa e o fenômeno do Tigre Celta, a situação mudou um pouco e pela primeira vez, a Irlanda é destino de imigrantes e não mais o povo que imigra.
Só que com a chegada da crise, muita gente perdeu o emprego e o povo irlandês voltou a imigrar. O governo precisou agir pra manter o povo no país e um dos remédios criados pra manter o povo aqui, foram essas bolsas.
O problema é que muitos irlandeses que recebem essas bolsas, não querem saber de trabalhar. Os valores variam de acordo com a idade e podem ser de € 150 a € 250 por semana. POR SEMANA! A única coisa que eles precisam fazer é comprovar pro governo que estão desempregados e dizer que estão atrás de emprego, feito isso, é só ir toda semana ao Post Office e sacar o suado dinheirinho. Assim, fácil.
O JobBridge foi criado como um incentivo para que o jovem (que já recebe o dole semanal) procure algo pra fazer ao invés de ficar apenas em casa, gastando na Penneys ou bebendo em pubs. O jovem que quer trabalhar encontra no JobBridge uma oportunidade de fazer alguma coisa e se sentir valorizado e útil.
Muitas vagas divulgadas no FÀS e nos outros sites de vagas, são JobBridge. Quando o jovem conquista o JobBridge e começa a trabalhar pra uma empresa, quem paga o seu salario é o governo e não a empresa. Isso mesmo, o governo. Com duas diferenças: 1) eles passam a acrescentar € 50 sobre o dole atual e 2) eles passam a serem pagos na suas contas bancarias, não precisando mais ir até o Post Office pra receber.
Zoe é JobBridge aqui na empresa e ela odiava o fato de ter que ir até o Post Office pra sacar o dole (antes de pegar o JobBridge). Ela diz que é muito constrangedor ir lá sacar e ter que ver a “cara de bunda” do oficial que, antes de entregar o dinheiro, costumava lhe perguntar como estava a busca dela por emprego e etc. Com o JobBridge, ela está trabalhando legalmente e o dinheiro dela vem na conta, como um salário normal.
O problema maior se dá no fato de as empresas se aproveitarem disso e contratarem apenas “interns” (estagiários JobBridge) pra trabalhar. Afinal, quem paga é o governo e não eles. Mão-de obra especializada e free, custeada pelo governo.
Isso deve soar como música para alguns empresários capitalistas.
Imagine só, alguém trabalhar pra você como um funcionário normal, 8h por dia, já que aqui não tem lei de 6h de estágio como no Brasil (ninguém respeita, mas tem) cujo responsável por pagar o salário seja o GOVERNO e não você. Não é fantástico? SQN
Em um mundo ideal, o intern que é JobBridge, no fim do seu contrato (que pode ser de 3 a 9 meses) é contratado e se torna um funcionário normal. Passa a ser pago pela empresa, tem seu PPS registrado e paga impostos, afinal ele já tem experiência e conhece a empresa. Isso faria a parceria JobBridge e governo funcionar perfeitamente.
Mas isso nem sempre acontece.
O que acontece é estágio terminar e a empresa trocar o intern, contratando outro pelas mesmas condições. Assim como o Brasil, aqui também tem empresas rodadas por estagiários (alô, agências de propaganda). Só que aqui é pior. No Brasil, a empresa paga o estagiário. Paga menos do que pagaria para um funcionário, mas paga. Aqui não,, quem paga é o governo.
O mais bizarro de tudo são os tipos de vagas divulgadas como JobBridge. Essa semana, enquanto conversávamos sobre isso, a Zoe me mostrou umas vagas bizarras, uma delas era de “Executive Marketing” que dizia que um “Master Degree” seria um diferencial a ser considerado, além das diversas atribuições do cargo.
Tem também vários jobs que, em um mundo justo, não seriam estágio. Como por exemplo: atendente de café, vendedor de loja ou catering em lanchonete.
O pessoal do Scam Bridge procura divulgar os casos em que o JobBridge é usado erroneamente pelas empresas, que se aproveitam do governo e prejudicam o jovem.
É triste.
E aí, continua achando que o Brasil é o pais mais assistencialista do mundo?
Muito bom e esclarecedor, como sempre, sr. Ricardo!
O Richard sempre comenta comigo muito puto que ele trabalha pra pagar imposto pra esses caras receberem o dole pra não fazer porra nenhuma. Acho uma situação bem diferente da situação no Brasil – como o Fernando comentou aqui, no Brasil as bolsas servem pra tentar corrigir uma desigualdade. Na Irlanda, tenho a impressão de que tem gente que simplesmente não quer trabalhar mais e tira vantagem disso.
Exatamente…antes de escrever o post eu “entrevistei” um monte de amigo irish…alguns inclusive, que recebem o dole… perguntei como funciona pra provar pro governo e tal e quando que vc para de receber… a resposta foi que vc apenas solicita provando estar desempregado, no Citizens Info mais perto da sua casa e vc pode receber, tipo, pro resto da vida…. é só ter cara de pau de ir toda semana no post Office e fingir que ta atras de trampo.
Eles nao pagam na conta, pq assim fica MTO teta..entao tem que ir sacar no Post Office, se nao for no dia, perde… so semana que vem… assim eles prendem as pessoas aqui “procurando emprego”.
Por isso que tem pub cheio em plena terça, é dia de dole.
Minha cara agora.. O____O
Muito boa a comparação entre as duas realidades, Rick! A diferença básica é a própria estrutura social dos dois países. Aqui no Brasil, o assistencialismo busca corrigir a desigualdade entre as camadas sociais, o que, pelo que li, não é tão grande na Irlanda, que usa o assistencialismo (nem sei se esse termo é correto, as vezes acho ele meio pejorativo) na tentativa de tirar a economia interna da estagnação (o Bolsa-Família tem um efeito similar no Brasil, também).
Essa diferença também reflete na origem das críticas aos projetos – Bolsa-Família x JobBridge. No Brasil, a crítica parte de cima para baixo, das classes média e alta contra as classes baixas beneficiadas; na Irlanda, pelo que você descreve, a crítica parte de baixo para cima, da população contra os abusos dos empresários.
Vc e seus comentarios inteligentes! Entao, eh dificil mesmo comparar o pq do “assistencialismo”…so quis colocar na balanca pro povo que acha que o Brasil ajuda demais. Ja que aqui, o povo nao faz pq o governo faz. O Brasil ainda “destina” o dinheiro da bolsa, aqui nao, torre como quiser…..gira a economia, claro..volto pro governo de um jeito ou de outro…
Se a gente for mais longe, è um democracia monarquica..hahaha.. ja que quem da e tira è o governo..
Difícil comparar… acho que a essência do assistencialismo é diferente nos dois países. Mas muito bom o post, explicou de modo simples, claro e objetivo.
nossa senhora….Brasil é lixo demais ! kkkkkkkk
É complicado vc fazer esse paralelo com o Brasil….aqui essas “Bolsas”…..são usados para fins espúrios.
Mas aqui tb….eles usam a bolsa pra beber, compra roupa, viajar.. pra tdo… no Brasil ela aind tem um propósito “bolsa famili” “bolsa escola” “bolsa gas”.. aqui nao…é um salario pago pelo governo.eles fazem o que querem com o dinheiro…
Não tem uma “Dole” pra mim não?! Hahaha aqui em Portugal existe bastante assistencialismo, porém os valores são bem menores que os praticados na Irlanda, aqui a bolsa gira em torno de 40 Euros/Mês.. e só!
Eles ja disseram que eu posso receber por ser europeu, dai me disseram que so posso receber depois de um tempo pagando imposto..enfim.. nem tentei.. mas que seria bom, seria!