“Give Ireland back to the irish”. Paul McCartney
Quem acompanha o blog sabe que eu sempre procuro trazer algum post com um conteúdo um pouquinho mais histórico-político-geográfico. Sei que não é o que a galera está de fato procurando, mas o blog é meu e eu escrevo o que eu quiser são assuntos muito interessantes que não posso deixar de comentar.
Um dos assuntos que já falei algumas vezes aqui é sobre a relação das duas Irlandas: a República da Irlanda e a Irlanda do Norte. Que depois da Independência, em 1922, se separaram, uma tornou-se independente e a outra, continuou debaixo do poder do Império Britânico.
Desde então, muitas coisas aconteceram, principalmente na Irlanda do Norte. Que se formos analisar, é a mais prejudicada na história. Metaforicamente falando, ela é como o irmão mais novo que foi deixado na casa da madrasta má enquanto o irmão mais forte e mais esperto conseguiu escapar. Ele pode até querer se juntar ao irmão, mas sozinho ele não consegue e a mágoa guardada por ter sido “abandonado” ainda é grande.
Deu pra entender?
A independência deu aos irlandeses a liberdade, mas que não pode ser desfrutada por completo, já que uma parte da Irlanda não é da Irlanda.
No dia-a-dia, não existe muito essa história de República da Irlanda e Irlanda do Norte pros irlandeses, pois eles sabem que isso é uma tremenda armação britânica, que só quer continuar sendo “dona” da Irlanda do Norte por causa de Belfast. Na prática, a Irlanda do Norte sofre bullying do Reino Unido, já que nem faz parte da Grã-Bretanha.
A empresa que eu trabalho tem dois prédios: um na Irlanda do Norte, onde funciona a fábrica e outro em Sligo, onde funciona o headoffice. Toda vez que meus chefes ou algum funcionário se refere à fábrica eles dizem “norte” e não “Irlanda do Norte”. Já perguntei o porque e ele só me dizem “é a mesma coisa, todos nós somos irlandeses”.
Pra você ver como o povo da Irlanda do Norte tá perdido e sem “identidade”, eles podem escolher entre ter o passaporte britânico ou o passaporte irlandês! Imagine a confusão que isso não traz?
Desde que as Irlandas se separaram, grupos políticos irlandeses se reúnem e tentam negociar a reintegração das Irlandas. Eles tentam convencer o povo irlandês das vantagens de se reintegrarem, mas infelizmente, o povo da República não pode fazer muita coisa e os britânicos não vão largar o osso tão fácil.
Isso é uma coisa que só o povo do Norte pode decidir.
Esses dias eu estava em Dublin e recebi um folheto de um desses grupos políticos. O folheto falava basicamente da importância da unificação irlandesa, referindo-se ao norte somente como Ulster e que as negociações só iriam andar quando o povo começasse a reivindicar isso. Uma parte interessante dizia que, tanto o governo de Dublin, quanto o governo de Londres, não podiam fazer mais nada pelo povo de Ulster, pois eles precisavam se posicionar a respeito dos próprios conflitos.
O folheto enfatizava que a República da Irlanda está de braços abertos pra receber de volta os irmãos do norte, para então criar a “New Ireland”. Deixando claro a opinião de que o Reino Unido só tem interesses financeiros em Belfast.
Nessa fanpage, que busca 1 milhão de likes a favor da integração, são compartilhados diversos fatos e razões para que o povo irlandês se una novamente. É legal dar uma olhada e ver que muitos argumentos são financeiros, como por exemplo um que diz que a quantidade exorbitante de dinheiro gasto no funeral de Margaret Tratcher poderia ter sido investido em tantas outras coisas importantes.
Dias atrás eu estava conversando com o Ian sobre esse assunto e ele me disse que em 2020, sim DOIS MIL E VINTE, vai haver um plebiscito nas duas Irlandas pra negociar a reintegração. O que ele acredita ser uma batalha perdida, já que o Reino Unido resolveu “fingir” que se preocupa com os irlandeses do norte.
Eles até escolheram Derry, na Irlanda do Norte, que agora mudou de nome e chama Londonderry pra ser a “Cidade da Cultura” no ano de 2013. Além disso, a Rainha visitou a Irlanda do Norte depois de mais de 20 anos sem pisar lá, mostrando seu interesse na parte do império além-mar.
Ele acredita que até 2020 o Reino Unido vai marcar um pouco mais de presença no norte, dificultando a possibilidade de reintegração.
A reintegração é um papo constante entre eles, mas nem todo mundo se importa. De certa forma, está bom pra todo mundo.
E você, o que acha?
Adoro seus posts politico-histórico-geográficos. Acho que nenhum blog de intercâmbio faz isso! 🙂
Eu acho que uma reintegração seria lindo, mas impossível. Mesmo com plebiscito, o UK daria um jeito de não perder a Irlanda do Norte… o que é triste, porque eles acabam ficando no meio, sem identidade. Uma pena mesmo!
Não tenho uma opinião formada sobre a união, ou não, dos países, porque confesso que nunca me aprofundei na história da separação dos mesmos. Mas fiquei com vontade de ler sobre isso. Gosto bastante do foco que você dá aqui no blog, foge do cotidiano dos blogs de viagem.
It’s difficult because there are factions of people in the north that believe their culture is British and not Irish. With the plantations of the 16th and 17th century there has been protestant settlement in the north of ireland, and as a result they believe that Northern Ireland is aligned with Britain. However a substantial amount of people want reunification with Ireland. With the troubled past, I cannot see this happening. Particularly as Scotland seek independence from the UK now.
Não tenho conhecimento (nem sentimento, ainda) sobre essa questão, mas acho que o plebiscito é uma saída justa para uma questão como essa. Por outro lado, ao ler o post me lembrei de uma aula de geografia no colegial (faz pouco tempo… hehehe), onde meu professor comentou que no Canadá, quando o assunto de deixar de fazer parte do império britânico começa a crescer, a rainha faz um plebiscito e sempre ganha…
Muito bom esse post e o que está linkado sobre a separação!